segunda-feira, 6 de maio de 2019

Brasil: Um País Sem Discernimento

É sabido que viajar educa o indivíduo, fazendo com que alguém contemple perspectivas diferentes das habituais. Quem teve a possibilidade de visitar outros lugares, provavelmente haverá de se deparar com muitos questionamentos acerca dos rumos que o Brasil está seguindo. Para quem olha de fora, a realidade se reveste de outros sentidos e significados.

O escritor e biólogo norte americano, Jared Diamond, em seu livro, Colapso, descreve como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Os motivos que contribuem para o fracasso seriam, entre outros, a destruição do meio ambiente, a negação de fatos e o fanatismo religioso. Assim como nos tempos da inquisição, o conhecimento, por si só, já é mais do que suficiente para tornar alguém suspeito.

No Brasil, as pessoas parecem não se escandalizar com certas “heresias”, mas com o famigerado "comunismo!". É esta a acusação com a qual se demoniza a ciência e o progresso. A emancipação de minorias e grupos menos favorecidos: comunismo! A liberdade artística: comunismo! Direitos humanos: comunismo! Justiça social: comunismo! Educação sexual: comunismo! O pensamento crítico: comunismo! Vive-se um anacronismo sem precedentes.

Dia destes ouvi de um amigo a anedota de um pai que havia trocado o seu filho de escola porque não queria que ele aprendesse sobre o cubismo. O pai alegava que o filho não precisava saber nada sobre Cuba, pois isso era doutrinação marxista. Não sei se a historia é real, mas que nela tem muito de verdade, não resta dúvidas. A essência da ciência é o discernimento, mas os sabichões do nosso tempo gostam mesmo é da “lacração”, de acabar, detonar, desmoralizar em nome de um pretenso esclarecimento.

Os entendidos de hoje mal ouviram falar em Nietsche ou Kant, preferem Malafaia e Edir Macedo. Não querem mais Paulo Freire, querem Alexandre Frota. Não querem mais Rousseau ou Montesquieu, mas, sim, Olavo de Carvalho. Não é difícil imaginar para onde vai uma sociedade que tem esse tipo de pensamento: para o precipício.

Fica claro que a restrição ao pensamento começa nas escolas e universidades. Por isso, os novos entendidos do pedaço concentram seus esforços nestes ambientes. Exemplos não faltam. Quem já não foi a apresentando a tal “Ideologia de Gênero” ou "Escola Sem Partido"? Em geral, trata-se de um pensamento idealizado por gente que pouco ou nada entende de educação. O interesse é reprimir o conhecimento e as divergências. Busca-se um samba de uma nota apenas.

Karl Marx é ensinado em qualquer universidade do mundo por ter sido um dos primeiros a descrever o funcionamento do capitalismo. E o fez de uma forma profunda e detalhada. Mas aqui se passou a acreditar que o contato com as suas ideias poderia transformar qualquer estudante em “comunista” em um piscar de olhos. Pouco importa se o indivíduo tenha buscado aprofundar o seu saber. Para alguns, a pessoa ter uma boa formação, é visto com desdém e indiferença. Pouco importa se a pessoa investiu a maior parte de sua vida na busca de um maior conhecimento por meio de alguma graduação, depois mestrado ou doutorado. Há uma tentativa de reescrever a história independente dos fatos. Valem as próprias convicções, não as evidências.

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