terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A Desumanidade e as Tragédias Brasileiras

A história do Brasil mostra que estamos vivendo sucessivas tragédias. Uma após a outra, somos diminuídos, violentados, subtraídos naquilo que nos faz humanos. Talvez seja justamente esta uma das consequências mais terríveis de qualquer tragédia: roubar os sentimentos mais singelos, os valores elementares e as noções preciosas de que a vida não é vista como dádiva. Afinal, sem determinados princípios de compaixão e afeto, sobra o que mesmo da raça humana?

O que presenciamos em Brumadinho, em Minas Gerais, explicita algumas respostas para esta nossa precária existência. O sofrimento de tantas pessoas que perderam o seu lar, o seu sustento e, sobretudo, os seus entes queridos, se transforma em um estado de dor, solidão, lamento e indignação sem fim. É terrível a imagem formada por um contingente de pessoas que foram brutalmente cerceadas em seus direitos básicos. Seres humanos reduzidos à lama.

Pensar que a cada uma destas pessoas a ganância e o poder foram capazes não só de matar, mas de provocar as piores condições para que sequer pudessem cumprir o doloroso ofício de enterrar os seus mortos, é pensar que já não compactuamos mais com a nossa própria civilidade. É constatar que já não podemos dizer que estamos em guerra, pois até na guerra existe uma “ética” a ser seguida.

O que se percebe de forma clara e indelével é que existem leis que são negadas pela mesma sede de poder e ganância que alimenta outras tantas tragédias pelo país afora. Brumadinho é a máxima expressão de que os seres humanos são meros objetos para constituir determinados fins. Valemos pelo que podemos produzir e não pelo que, efetivamente, somos. Quem se importa com a história, com as dores, com os sonhos ou a desumanização? São as tragédias individuais que mostram a nossa convivência coletiva se esfacelando.

Se um mal cometido a uma pessoa é, por extensão, um mal que é cometido a todos, a tragédia que está sendo imposta a gente que sequer conhecemos, nos desumaniza, humilha e diminui, sem exceção. A justiça que impede um homem de enterrar seu próprio irmão é a mesma justiça que, por conveniência e mesquinhez, atropela valores civilizatórios fundamentais e não se sente constrangida por uma catástrofe onde centenas não poderão se despedir de seus familiares.

São tragédias que se cruzam e se sucedem em função de um mesmo significado comum: a farsa de uma justiça que é capaz de culpar alguns por conveniência ou malandragem e inocentar outros, sabidamente, culpados. Tragédias que brotam da lama de um judiciário que por conta de alguns dos seus protagonistas suscita apenas nojo do mesmo modo como certos personagens da classe política que não nos permitem sonhar com dias melhores, infelizmente!

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