sexta-feira, 14 de setembro de 2018

A ERA DA DESCONFIANÇA

A cada ano os brasileiros confiam menos uns nos outros e desconfiam mais das instituições que os governam. Os dados constam nos Índices de Confiança Social, o ICS, realizado pelo Ibope. Não há registro de um ano no qual a desconfiança tenha sido maior do que em 2018. É nessa estrada cheia de percalços que acontece a atual corrida eleitoral.

Todas as instituições perderam confiança aos olhos da população em comparação com períodos anteriores, com uma única exceção - o Congresso Nacional - que ficou na mesma situação. Pode até parecer esquisito, mas este “mesma” tem a ver com percentuais muito baixos. Portanto, não chega a ser uma vantagem. Bombeiros, presidência da república, polícias, ministério público, meios de comunicação, justiça, sindicatos, partidos, sistema eleitoral e forças armadas. Nenhuma instituição está funcionando melhor agora em comparação com anos anteriores.

Em grande parte a queda na confiança é só mais um degrau escada abaixo, numa descida quase ininterrupta desde que as pesquisas começaram a ser feitas pelo Ibope. A que naufragou com mais rapidez foi justamente a presidência da república: foi do céu ao inferno nos últimos anos. Com Michel Temer no comando a confiança caiu tanto a ponto de ser considerada a instituição menos confiável de todas.

Olhando de longe, tudo isso soa como algo conhecido e dá a impressão de não ser nenhuma novidade. Tão longo e repetitivo é o período de decadência institucional do Brasil que nem dá vontade de prestar atenção em outras percepções, mas, é preciso dar-se conta de que estamos diretamente implicados em todo este arsenal de péssimas constatações.

Alçadas ao protagonismo político por Temer, as forças armadas, por exemplo, começam a pagar o seu preço em termos de confiança. Foi com Temer que acabaram sendo chamadas para reprimir manifestações, debelar a greve dos caminhoneiros, respaldar a intervenção no Rio de Janeiro. Embora maior se comparada às instituições políticas, a confiança nas forças armadas caiu em 2018, após anos em alta. Regrediu ao patamar de 2013, ano em que a insatisfação eclodiu em centenas de protestos pelas ruas de todo o país.

Acredito que o ano de 2013 tenha sido uma espécie de ponto de inflexão na confiança dos brasileiros em suas instituições e também em relação aos seus compatriotas. De lá para cá, não é coisa rara vermos vizinhos, amigos e até familiares, perdendo a confiança e a capacidade para dialogar de forma franca e aberta e em respeito a opiniões divergentes. A desconfiança acabou sendo exacerbada inclusive por meio da truculência na interação das mídias digitais. O facebook, por exemplo, virou trincheira para defender questões de forma incisiva, apaixonada e até irracional.

A universalização dos smartphones e seus aplicativos de mídias antissociais colaboraram com esse processo de desconfiança recíproca e de acirramento das polarizações. Dificilmente teríamos alcançado um grau de hostilidade tão grande se os sistemas partidário e eleitoral brasileiros não sofressem uma crise crônica de representatividade. Quando a política não consegue mais dar conta de resolver os conflitos, são as pessoas que acabam se voltando para o mundo virtual em busca de soluções.

Como é que esta desconfiança generalizada pode impactar no resultado daquilo que está em nosso horizonte? Difícil saber, mas, os sinais já estão aparecendo por todos os lados. Mesmo diante de um clamor por mudanças, a resposta talvez seja que tenhamos mais e do mesmo. Qual a probabilidade de as eleições de outubro servirem para desanuviar o clima negativo que norteia a opinião pública? Desconfio que seja a mesma de Temer eleger um Meirelles como seu sucessor. A tempestade está só começando a se aperfeiçoar, infelizmente.

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