sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A Eleição do Papa Francisco e os Dilemas do seu Pontificado para a Igreja Católica

Passada a surpresa da eleição do cardeal argentino Jorge Mário Bergóglio para o mais alto cargo da hierarquia católico romana, começam a aparecer os grandes desafios do seu pontificado. Desde a sua primeira aparição na basílica de São Pedro, o papa Francisco dá a impressão de ser um bom sacerdote: simples, comunicativo, disciplinado, discreto, sensível.

Arrisco dizer que é tempo de esperança. Afinal temos um papa da periferia. Alguém da América Latina que nunca foi decisiva nas demandas geopolíticas do mundo e da Igreja. As expectativas e as responsabilidades que recaem sobre os ombros de Francisco parecem ser incomensuráveis.

Pela sua trajetória, Bergóglio, ao que parece, representa uma Igreja alinhada com os mais pobres. Igreja que tende a ser mais distanciada do luxo, dos títulos, da pompa. Igreja que pretende estar alicerçada na simplicidade. Que consiga comunicar-se com o povo e com o mundo através de uma linguagem capaz de abarcar gestos e palavras inspiradas em Francisco de Assis. Sua pobreza, como a de Jesus de Nazaré, questiona as vestimentas bordadas a ouro e prata da maioria daqueles que ocuparam o papado até os dias atuais.

Mesmo sem a intenção de criticar ou obscurecer as impressões positivas acerca do pontificado, é preciso enfatizar que a tão badalada preservação da evangelização como prioridade da Igreja parece ser muito mais a preservação de uma ordem hierárquica do mundo onde uma pequena elite governa e os povos aplaudem, se emocionam, rezam e cantam para que as bênçãos divinas encontrem o novo governante político e religioso.

Receio que o mesmo catecismo continuará sendo reproduzido. Possivelmente não haverá uma reflexão com caráter global. Um convite ao pensamento, ao despertar de uma consciência crítica e profética. A preocupação com as grandes demandas sociais e humanas, mas a conservação de uma doutrina, em alguns pontos, anacrônica e ortodoxa.

Uma das tarefas primordiais do papa é o de transformar o governo centralizado da Igreja Católica Romana. Os relatórios acerca dos grandes problemas do Vaticano e que, supostamente, teriam apressado a renúncia de Bento XVI, indicam graves omissões e negligências para sacerdotes acusados pela prática da pedofilia, corrupção financeira e luta pelo poder.

Não seria oportuno anunciar previsões sobre o futuro da governança da Igreja Católica Romana. Mas não parece que acontecerão grandes mudanças nas estruturas dogmáticas e políticas que subsistem a centenas de anos. As mudanças significativas virão se as comunidades cristãs católicas assumirem as demandas contemporâneas do cristianismo e forem capazes de dizer, de forma clara, a partir das necessidades de suas vidas como o Evangelho deveria ser propagado e vivenciado na atualidade.

Vivemos e somos invadidos pela sociedade do espetáculo que nos induz a uma desordem em relação aos valores primordiais para uma convivência humana harmônica. Ouso afirmar que sair às ruas para dar de comer aos pobres e rezar com os prisioneiros, embora tenha algo de humanitário, não resolve o problema da exclusão social presente em muitos países pelo mundo afora, e de forma peculiar, também aqui no Brasil.

Acredito que o verdadeiro poder de convencimento das pessoas não acontece nas prédicas ou homilias, mas nas práticas cotidianas. As ideias iluminam, mas os exemplos atraem, edificam e motivam para as ações. As muitas explicações teológicas e dogmáticas mais confundem que esclarecem. As práticas de amor e solidariedade transformam corações e mentes.

O que tem marcado o Papa Francisco não são os espetáculos principescos e palacianos, mas os gestos simples, populares, acolhedores. Verdades intransferíveis para quem é capaz de valorizar o bom senso e a vida enquanto dádiva. Ele está quebrando os protocolos e mostrando que o poder é sempre uma máscara e um teatro, mesmo em se tratando de um poder pretensamente de origem divina.

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