sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

ÁRVORE FRONDOSA

O Brasil se parece, hoje, com uma pessoa atropelada por um caminhão, mas, que, apesar dos graves ferimentos, escapou com vida. Machucados ficaram os ditames éticos, a cidadania, a representação parlamentar, os meandros da justiça e da equidade. A tragédia que concentra milhões de desempregados faz com que se busque na informalidade um meio de ter um pedaço de pão sobre a mesa. Indicadores mostram um número cada vez maior de pessoas em situação de absoluta indigência.

Um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros anos do cristianismo, Santo Agostinho, dizia que a esperança tinha duas filhas especiais: a indignação e a coragem. A indignação para contestar o que não estava bem. A coragem para mudar aquilo que se julgava injusto. Diante de tão absurda conjuntura sempre associada à crescente violência, a nação brasileira tem reagido com indignação e apatia.

A indignação se manifesta em expressões de ódio e desprezo; a apatia, na sensação de que, pouco importa o esforço pessoal, as coisas parecem caminhar numa direção nebulosa. Mudam os protagonistas, permanecem as malandragens. É preciso, pois, não se deixar levar pelo niilismo para que não sejamos todos tragados pela inércia e o individualismo. A indiferença, na maioria das vezes, corrói a nossa subjetividade e legitima o poder que nos submete a seus degenerados propósitos.

Um apelo importante neste mundo caótico é olhar para as narrativas bíblicas enquanto chamados à perseverança. Não há no cânone bíblico um único livro que não retrate o conflito histórico e o embate entre opressores e oprimidos. O Criador suscita o novo quando em volta tudo parece aniquilado. Foi assim, por exemplo, na gestação de Sara, já idosa, na ação libertadora de Moisés contra o faraó, na perseverança do pequeno Davi diante de Golias.

Tempos de crise requerem o discernimento e a capacidade de encontrar caminhos, mesmo que estes se mostrem como se fossem um simples grão de mostarda: pequeno e insignificante, mas, capaz de brotar e, no futuro, mudar o rumo da história transformando-se em planta frondosa. É preciso exercitar esta paciência histórica. Não basta o protesto; é imperativo ter propostas. Não é suficiente reclamar, é preciso agir. De nada vale odiar, falar mal, criticar. Importa ser exemplo nas ações; arregaçar as mangas e, como dizia João Batista, empunhar o machado e dirigi-lo à raiz da árvore apodrecida.

O futuro será sempre o fruto do que semearmos no presente. Não será agora que haveremos de encontrar uma saída pela inesperada irrupção de algum personagem em particular. Tempos de crise exigem cabeça fria, mente aberta e um coração sempre disposto a partilhar alento. Não se deixar levar pelos temporais e nem pelas turbulências desconcertantes.

A história está repleta de exemplos de homens e mulheres que tinham tudo para se esquivar do mundo em algum lugar cômodo, e que, no entanto, ousaram erguer a bandeira de um futuro melhor. É preciso resgatar aquilo que nos foi legado por Mahatma Gandhi, por Martin Luther King, por Nelson Mandela, por madre Teresa de Calcutá. Jamais esquecer que aos olhos das pessoas do seu tempo, Jesus fracassou, mas aos olhos da história, marcou de forma profunda e indelével a vida humana. Talvez, porque tenha sabido confiar que a menor das sementes haveria de se transformar na mais frondosa árvore.

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